// Mas se puder Ligue //

Óleo s/ tela

70 x 106 cm

 // Lene //

Automotiva s/ chapa de Alumínio

115 x 191 cm

POR QUÊ VOCÊ NÃO ME CONTOU SOBRE VOCÊ? A estrutura pictórica presente nas telas de André Andrade se apoia na imprecisão da imagem real, na indefinição do instante, na fragmentação repentina. Aonde a imagem se interrompe, a pintura se inicia. Ele vai se apropriar de imagens que, por sua natureza, são efêmeras e transitórias, dos lapsos que criam desconexões, uma estabilidade fragmentária que cria uma interface com o seu fazer artístico No processo de trabalho de André, ele vai usar como ferramenta a deteriorização de uma imagem pronta que apresenta interferências de bugs eletrônicos, de uma falha do sistema operacional de um programa transmitido pela tv a cabo. A imagem utilizada no lapso de transmissão, uma falha real, um acontecimento ocasional, acidental, é a origem do seu trabalho. O sentido de sua obra emerge da reunião desses fragmentos e obstruções, desse staccato, desse tempo de paradas que arremessa a imagem em cadências irregulares, em ritmos diferenciados criando uma espécie de “ruído ótico”. A tela é concebida como a imagem da imagem, não como matéria de representação . Os elementos compositivos parecem friccionados uns contra os outros, na tentativa de uma simultaneidade de soluções, criando áreas de persistência que pertencem às próprias imagens em dispersão e uma malha densa e animada de frames até chegar à abstração. Insinuam ausências, uma sensação de perda, de algo negado, uma curiosa falta de recompensa. O plano da tela acomoda uma série de imagens de imagens familiares, de programas e seriados quase irreconhecíveis, quase indistintas e corrompidas a partir do lapso da imagem inicial. Há algo ali que se reconhece, mas que não podemos ver, são estranhos territórios de uma pintura em erosão, que pertencem à própria imagem em dispersão. O seu trabalho conserva essa ambiguidade da indeterminação do tempo cuja fluência é inesperada. São pequenas narrativas condensadas e deslocadas por um tempo que as separa efetivamente da sua emissão verdadeira. Tempo do devir, tempo da mudança. Nesses resíduos e detritos da comunicação, nesse enervamento intenso, destoante, discordante, cifrado é que sua arte vai transitar. E encontra a sua correspondência no mundo real, um quebra-cabeças de dezenas de unidades em infinitas mutações, diálogos interrompidos pela falha na imagem eletrônica com descontinuidades plásticas, que nos remete a um sistema de comunicação do mundo contemporâneo, a algo que não se completa, a algo que não consegue se concluir. Nas suas pausas, essas telas interrogam a respeito do sentido das coisas e a ausência delas.

 

Vanda Klabin